Cartões sustentáveis: gastando com responsabilidade ambiental

Em um mundo marcado por desafios climáticos e preocupações ecológicas crescentes, cada escolha de consumo ganha dimensão de impacto. Os cartões bancários, presentes no cotidiano de milhões de pessoas, representam um ponto de atenção significativo. Embora pareçam inofensivos, esses pequenos artefatos carregam potencial poluente que pode durar séculos.
Este artigo explora como a adoção de modelos produzidos a partir de materiais reciclados e processos responsáveis pode transformar o ato de pagar por bens e serviços em um gesto de responsabilidade ambiental e social. Ao longo das próximas seções, apresentamos dados, iniciativas e perspectivas para que instituições e consumidores unam forças em prol de um futuro mais regenerativo.
Panorama dos cartões bancários no Brasil
O Brasil destaca-se como um dos líderes globais no uso de cartões bancários, resultado da expansão do crédito, da digitalização dos serviços financeiros e do aumento do e-commerce. Em 2024, o volume de transações via cartão representou mais de metade do PIB de varejo no país.
- 134 milhões de cartões de crédito ativos
- 167 milhões de cartões de débito ativos
- 23,7 milhões de cartões pré-pagos ativos
O crescimento dessas modalidades foi de 12% no crédito, 26% no débito e impressionantes 90% nos pré-pagos em relação ao ano anterior. Além de refletir a inclusão financeira, esses números alertam para o desafio de gerenciar o ciclo de vida de bilhões de dispositivos plásticos.
O avanço do e-commerce e a popularização das carteiras digitais intensificam ainda mais a demanda por cartões físicos, criando um paradoxo: a necessidade de meios de pagamento modernos e, ao mesmo tempo, a urgência de reduzir seu impacto ambiental.
Para enfrentar esse cenário, especialistas recomendam que bancos e fintechs considerem soluções inovadoras, priorizando materiais alternativos e modelos de economia circular desde o design até o descarte.
Impacto ambiental dos cartões convencionais
Os cartões tradicionais, quase sempre feitos em PVC, podem levar mais de 300 anos para se decompor. Durante esse período, liberam gases de efeito estufa que contribuem ao aquecimento global e liberam substâncias tóxicas que contaminam solos e recursos hídricos.
- Mais de 300 anos para decomposição completa
- Emissão contínua de GEE ao longo do tempo
- Contaminação de solo e águas por aditivos plásticos
Segundo a WWF, o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo e recicla menos de 4% de todo esse material. No contexto global, o ciclo de vida de um cartão emite cerca de 1,5 kg de CO2, equivalente a dirigir um carro por 7 km.
Além da pegada de carbono, o volume de 300 mil toneladas de plástico descartado anualmente no país intensifica a poluição marinha e gera custos elevados de limpeza e descontaminação, reforçando a necessidade de repensar o modelo de produção.
Iniciativas de cartões sustentáveis no Brasil
Frente aos impactos negativos, empresas inovadoras têm buscado alternativas que combinam tecnologia e sustentabilidade. Essas iniciativas não apenas reduzem emissões, mas também inspiram mudanças no setor.
Up Brasil foi pioneira ao lançar cartões feitos com PVC reciclado, resultante de sobras industriais e aparas de cartões defeituosos. Em parceria com a Thomas Greg do Brasil, especialista em inventários de GEE, essa linha sustentável trouxe ganhos expressivos.
Os resultados comprovam que a opção por PVC reciclado proporciona redução de 46% na emissão de CO2 e diminuição significativa do consumo de recursos, estabelecendo um patamar superior de produção responsável.
Outro exemplo de vanguarda é a parceria entre a Thales e a startup Caju. Juntas, elas desenvolvem cartões com carta-berço feita de papel de madeira reflorestada, certificada pelo FSC, minimizando o uso de plásticos.
De 2021 a 2022, a fabricação de cartões sustentáveis pela Thales cresceu mais de 40%, sustentando a meta ambiciosa de atingir até 2030 uma produção majoritariamente verde, reforçando a inovação contínua.
Essas experiências demonstram que a convergência entre grandes fabricantes e startups pode acelerar a transição para produção majoritariamente de cartões sustentáveis, criando um mercado mais resiliente e consciente.
Compromissos corporativos com a sustentabilidade
Além das iniciativas de produto, multinacionais de pagamentos têm estabelecido metas rígidas para reduzir emissões em toda a cadeia de valor.
A Mastercard comprometeu-se a cortar 38% das emissões de GEE (escopos 1 e 2) até 2025 em comparação a 2016, investindo em energia renovável e eficiência energética em suas operações.
Outras empresas do setor financeiro, como bancos digitais e grandes emissores de cartões, anunciaram políticas de compensação de carbono, uso de plásticos de base biológica e programas de logística reversa para cartões usados.
Atualmente, 46 organizações brasileiras constam na lista “Melhores do Mundo Sustentáveis de 2025”, refletindo o comprometimento crescente das corporações com práticas ambientais responsáveis.
Economia circular e prolongamento da vida útil dos produtos
O conceito de economia circular propõe repensar todo o ciclo de vida de um produto, buscando maximizar seu uso e reintegrar componentes ao processo produtivo em loop contínuo.
Modelos de logística reversa para cartões usados oferecem incentivos a clientes que devolvem dispositivos antigos para reciclagem ou reutilização, reduzindo a demanda por nova matéria-prima.
Plataformas de revenda de kits de aparelhos bancários e programas de reaproveitamento de chips e chips seguros ampliam a vida útil de componentes eletrônicos, diminuindo impactos e custos de produção.
Taxonomia Sustentável Brasileira
Para estruturar o avanço das finanças verdes, o governo lançou a Taxonomia Sustentável do Brasil, um guia que orienta investimentos em projetos com alto padrão socioambiental.
- Mobilizar e reorientar investimentos públicos e privados para iniciativas sustentáveis
- Promover a criação de um mercado financeiro sustentável e inovador
- Fortalecer a fiscalização e regulamentação do setor
Essa taxonomia estabelece critérios claros e mensuráveis para operações financeiras, elevando a transparência e atraindo capital global para empreendimentos alinhados ao Acordo de Paris.
Tendências e perspectivas futuras
A previsão é de crescimento contínuo da demanda por cartões sustentáveis, impulsionada pela sensibilização do consumidor e pela pressão por relatórios ambientais robustos.
Na América Latina, o financiamento da natureza lidera emissões de títulos verdes, com bancos brasileiros desempenhando papel significativo nesse movimento, ainda que o mercado seja fragmentado.
Especialistas estimam que, até 2030, mais de 50% dos cartões emitidos globalmente usem materiais alternativos ao PVC, refletindo normas mais rígidas e expectativas de consumo consciente.
Escolher um cartão ecológico transcende a conveniência: é uma declaração de valores, um passo concreto para compromissos ambientais concretos e mensuráveis e a construção de um legado positivo para as próximas gerações.